O pão nosso é de cada dia

 E disse aos seus discípulos : por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, nem pelo que haveis de beber. Lucas 12: 22



Algumas coisas que acontecem em nossa vida são inexplicáveis. No meio do caminho de nossa jornada nessa terra, vivenciamos situações imagináveis. Algumas delas não entendemos o porquê passamos, se não nos deram o poder de escolher, principalmente na infância. 

Em minhas memórias,  sempre trago um vazio de gente grande em casa. Sabia que eles tinham saído para trabalhar ou precisavam resolver alguma coisa. E eu criança de tudo ficava em casa "cuidando" dos outros irmãos. Mas criança não sabe cuidar, não sabe proteger, não sabe se defender. No entanto, essa aventura que ei de lhes contar vivi ao lado de minha mãe. Ora são muitas as aventuras que compartilhamos juntas, pois sou a primeira dos meus irmãos. 

 Morávamos num bairro novo que parecia mais uma roça que um bairro de verdade. Lá não havia água encanada, energia elétrica,  mercado, farmácias, padaria, essas coisas básicas para se viver com certa qualidade. E havia uma rua principal, toda de piçarra (não sei se o amigo saberá identificar). Os vizinhos já eram muitos até. No loteamento havia umas seis casas ou seja seis famílias. 

Para irmos à cidade precisávamos andar cerca de uns 2km (eu acho) e atravessarmos uma ponte, pois havia um córrego ou espécie de riacho que separava o rural do urbano. 

Certa vez estávamos em casa e pense o amigo aqui comigo: um calor de rachar a cuca. Sertão, aquela visão trêmula no ar, pra lá de meio dia. O pão de cada dia em minha casa, realmente, era de cada dia. Não é como hoje que guardamos na dispensa e há fartura pra tudo quanto é lado. Todo santo dia minha mãe ou o meu pai saiam de casa para providenciar o alimento para cinco filhos pequenos. Geralmente meu pai era quem fazia as vezes. Mas ele sempre encontrava uma pedra no meio do caminho. Quando chegava o meio dia e ele não aparecia, sabíamos que ele estava num botequim, esquentando o estômago e muitas vezes com o pão amarrado na garupa da bicicleta. Porém nesse dia, minha mãe  levou-me com ela. _ Vamos minha filha, vamos atrás de alguma coisa para comer!

Minhas pernas eram muito curtas para tal marcha e travessia. Lembro-me do esforço para ampliar as passadas, pois a fome não espera. E íamos a passos largos. Minha mãe sempre cheia de esperança e fé. 

E foi nessa fé que nos deparamos, no estreito caminho, com um saco. Um saco enorme de fibra, amarrado próximo à boca. Olhamos para um lado da trilha para o outro e nada. Não havia ninguém que evidenciasse ser o dono daquele saco. Minha mãe levantou-o, sentiu um pouco pesado e resolveu abrir. _ Minha filha, vamos ver o que é. Quando mainha abriu, viu pedaços enormes de carnes de sol empilhados um em cima do outro. Ficamos assustadas. Quem poderia ter deixado uma coisa tão preciosa à beira do caminho(interrogação kkk...computador não funciona por completo).

Minha mãe sorriu e na mesma hora arrastamos o saco morro acima, pelo mesmo caminho de volta para casa. Meus bracinhos pequenos se esforçavam ao máximo para carregar aquele troféu. Sim, era a nossa felicidade. Não precisaríamos incomodar nossa vó por um bom tempo. Aquela carne nos alimentou por longos dias. E na redondeza, nunca ninguém se pronunciou sobre ter perdido ou esquecido algo tão valioso. Minha mãe até hoje nos diz que foi o anjo do Senhor que colocou aquele saco  no nosso caminho. E eu, hoje, lembrando-me desse feito, acredito sim, que foi o anjo do Senhor que nos garantiu alimento. Eu creio nesse Pai Nosso, que no auge do desespero, vem e põe em nosso caminho a solução, o pão: o pão nosso dentro de um saco no meio do deserto. Para nos dizer Eu te vi, Eu te vejo! 

 

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