Primeiros passos


 Nunca havia passado pela minha cabeça ser professora. Embora na minha infância, quando caminhava rumo à escola primária, um vizinho disse: vai lá, futura professora! Naquele momento de criança, achei um máximo aquele elogio. Meus passos foram direcionados a uma estrada que me levaria à minha vocação. 

Durante o Ensino Médio, tentei o ENEM, recebi minha nota e fui fazer uma prova na UFT. Eram tantos questionamentos, principalmente sobre renda finaceira, que ainda hoje espero uma resposta de tal instituição. 

Mas aprendi muita coisa mesmo foi no dia -a - dia da vida. Essa foi minha Faculdade e minha primeira graduação. Agradeço a Deus por ter me conduzido a tantos lugares e ter conhecido tanta gente-professora.

Aprendi com os cearenses; com os paulistanos; baianos; mineiros...

Quando retornei a minha cidade natal, vi a diferença ampliada de uma vida na capital para uma vida no interior. Que maçada! De um mundo grande de volta para um mundo pequeno.

 Porém, nunca fui de desistir fácil e logo que cheguei, percebi a urgência de arranjar um emprego. Minha família precisava de ajuda e ser a mais velha requer algumas responsabilidades. 

No dia seguinte, coloquei minha melhor roupa e fui com minha mãe de loja em loja a procura de serviço. Chegamos numa  de confecção que me ofereceu 5% em cima de cada peça vendida, ou seja se a peça saísse, eu recebia; se não, ficava sem. 

Minha mãe não achou interessante. Ela precisava aprovar, visto que o benefício era para a nossa casa. Então no hospital da cidade, ela encontrou uma enfermeira que estava precisando de alguém para serviços domésticos. Aceitamos na hora, pois eu iria receber um dinheirinho mensal, era muito mais seguro pra toda a família. 

Fiquei uns 3 meses nessa casa. Na época, a enfermeira pediu que eu não fizesse nenhuma dívida, pois eu ficaria por um curto período. Bom, não fixei esse recado. 

Certo dia, passaram uns vendedores de livros na sala de aula oferecendo kits para os alunos do Ensino Médio. Eu fiquei apaixonada ao folhear o Manual e ao ver aqueles livros de literatura. Uma maravilha! 

Assim fiz minha dívida em 3x no carnê. Fiquei um pouco apreensiva, pois não sabia por quanto tempo ia continuar trabalhando naquela casa. Contudo fiz a dívida.

Completado o período, a enfermeira disse que não precisava mais dos serviços. Bom eu  sabia que não era dotada de muitas habilidades domésticas, mas aprendi muito com ela, a MEL( a dona da casa). Aprendi a assar um frango; picar uma carne; ouvir MPB; dicas de como usar bucha vegetal para banho (essas simples mesmo). Sim, tem dicas para elas ficarem macias. Posso não ter demostrado aptidões no lar, porém segui todos os comandos que foram solicitados.

Logo que saí da Mel, fui em busca de outro emprego. Agora seria babá. Meu primo informou-me de que estavam precisando de uma pessoa para cuidar de 3 crianças. Durante a entrevista de emprego, o senhor, avô dos meninos, me perguntou qual era o meu sonho. Eu disse a ele que queria fazer faculdade e quem sabe ser uma professora ou jornalista como ele, já que ele era um. Ele sorriu e disse que ,infelizmente, a vaga de babá não era para mim. Eu fiquei chocada e sem graça! Como não era pra mim? Eu estava precisando trabalhar! 

Foi aí que ele disse: -  quando surgir uma oportunidade no meu jornal, eu chamo você. 

Saí de lá sem emprego e frustrada. Entretanto logo outra oportunidade bateu em minha porta. Iria trabalhar na casa de uma senhora idosa, que estava precisndo de uma cozinheira para as férias do mês de julho. Mais uma vez, eu não poderia deixar aquela oporunidade passar. Fui antes das 6 horas da manhã, no dia do meu aniversário, fazer a entrevista. 

Conversei com a senhorinha. Disse a ela que topava o serviço. Ela pediu que eu não atrasasse no dia seguinte e que não faltasse. Mal sabíamos, eu e ela,  que logo a seguir, o destino mudaria todas as promessas. 

 No percurso de volta para casa, um carro se aproximou,  buzinou e me chamou. Era o dono do jornal. Ele me perguntou de onde eu estava vindo tão cedo, pois ficou admirado por uma jovem estar acordada aquela hora.  Eu disse a ele, super entusiasmada, que acabara de conseguir um emprego de cozinheira na casa de fulana de tal. Estava escrito no meu sorriso a palavra felicidade. 

Ele  de forma estranha, foi brigando comigo, como se  fosse meu pai ou meu avô: - minha filha eu num lhe disse que eu iria arranjar uma vaga pra você! Eu respondi: sim, mas eu não posso esperar! Eu preciso trabalhar!

Ele, por conseguinte, pediu que eu fosse à redaçao do jornal às 9h para uma entrevista. Eu estava tão atordoada com que acabara de ouvir que respondi: - 9h! tá bom! amanhã. 

E ele logo retrucou: amanhã não, minha filha, hoje! 

Ainda era cedo e eu estava perdida com o tempo. 

Fui correndo pra casa. Coloquei uma outra roupa e fui para o jornal. Eu estava muito nervosa.  Chegando lá, ele me levou à sala ao lado e pediu que eu escrevesse uma carta.

 Foi um fiasco total. Eu não sabia como começar; o que colocar no papel, em fim, a carta virou um bilhetinho.

Ele leu, releu e disse que eu tinha muito o que melhorar. Mas ainda assim, fiquei com o serviço. Ele disse que era uma experiência.

Esse dia marcou a minha vida. Foi um presente. Começava ali uma outra etapa,  que me conduziria ao caminho certo, ao caminho da graduação e da minha profissão.  

Continua...



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