Vitupério


De repente vi-me agarrada a uma teia de aranha.

Tentei de inúmeras formas me desvencilhar de cada linha que me capturava, mas nada acontecia.

Colocava peso em uma das mãos, empurrava com a outra. Dava impulso flexionando os joelhos, porém retornava a posição de Cristo.


Ali fiquei, estatelada na teia ,pegando fôlego para tentar outra vez.

Já não suportava aquele grude dos novelos colantes em meu corpo.

Não podia colocar a lingua para fora e dizer uns palavrões, pois se fizesse isso corria o risco da minha língua ficar presa. E isso seria catástrófico, pois iriam dizer: "Está vendo, bem feito! Foi falar demais! Quem mandou ter a língua grande!"

Meu coração batia acelerado, visto que os esforços para sair das enlaçadas me cansavam.

Eu estava com medo. Aqualquer hora a dona daquela teia iria aparecer, ou seriam donos?

Fiquei ainda mais apavorada.

Não tinha mais força nas pernas nem nas mãos. 

Um grito!- pensei: "Quem sabe se eu der um grito, um gato venha do abismo e me tire dessa enrascada"

Mas nada, não havia ninguém por ali capaz ou disposto a me ouvir.

Todos estavam ocupados, fumando seus achismos, tomando suas ideias e conversando marasmos. 

 As teias  se divertiam, me prendiam e riam dizendo que eu seria incapaz de sair dali.

Quantos vituperios!

Desse modo como minha luta não chegava ao fim, pus me a chorar.

Humilhei-me diante das invectivas.  Minhas lágrimas começaram a inundar  cada linha daquela imensa teia. Logo percebi que quanto mais eu chorava, as linhas murchavam.  Elas perdiam a força, pareciam esponjas absortas em água. 

Assim consegui ficar de quatro: tirei uma mão, depois a outra. 

Agora estava de joelhos. Uma dor que invadia a alma fazia com que jorrassem torrentes de águas das cascatas esverdeadas . Aquela estrutura pegajosa estava ao chão,  afogada no rio de lágrimas.

Consegui ficar de pé. Dei dois passos e já estava fora daquela mísera organização.

Diante de mim comtemplei o cadáver,  exumado nas águas salgadas da minha reabilitação. 

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